Relação apaixonada com a música guia edição de altos e baixos em ‘Cold Hot’, de Sergio Poroger

DAIGO OLIVA

‘Cold Hot’, de Sergio Poroger (Alfaiatar) – Quando algo é realizado com envolvimento genuíno, percebe-se logo de cara. “Cold Hot”, livro de Sergio Poroger, exala essa relação apaixonada com o assunto que aborda. Nesse caso, trata-se de uma viagem de 17 dias e 3.000 km pela rota 61, nos Estados Unidos, conhecida como “a estrada do blues”, embora também tenha casas de jazz, do country do Tennessee e os rincões da soul music. A obsessão do autor é exaltada em quatro dos cinco textos da publicação –quantidade generosa de escritos para um livro de fotos, o que acaba por tornar a mensagem de vínculo entre artista e música muito repetitiva. Assim como na tradição de nomes como William Eggleston, embora com abordagem bem diferente, as viagens pelas estradas norte-americanas revelam o vocabulário visual do país, formado por enormes letreiros de cores vivas e lindas tipografias, seja de uma loja de fogos de artifício ou de um posto de gasolina. Poroger nos mostra as fachadas desses estabelecimentos em uma edição de fotos que começa coerente, mas que escorrega ao longo da obra.

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Ao passar do “cold” (frio) das paisagens externas para o “hot” (quente) do interior dos locais visitados, a edição intercala algumas imagens dispensáveis de frequentadores dos clubes de blues e clichês da fotografia de shows, como um close no braço de uma guitarra com as luzes desfocadas ao fundo. Quando o fotógrafo se concentra em detalhes ou cenários menos óbvios, como microfones de um estúdio ou um palco ainda sem os músicos, o livro ganha força. “Cold Hot” segue a formatação de publicações mais tradicionais: inicia com textos de apresentação –do próprio autor e do curador da obra, Eder Chiodetto–, passa para as fotos –algumas delas com pequenas observações ou citações– e termina com outros três textos –do jornalista e colaborador da Folha Carlos Calado, de Felipe Poroger, filho do fotógrafo, e mais um sobre o autor–, além de um índice remissivo apontando onde cada imagem foi feita. Sem tantos textos, a publicação poderia deixar o leitor à vontade para mergulhar da forma como bem entender na viagem realizada pelo artista. Mas fica muito claro que Poroger quer nos contar, de seu ponto de vista, a trajetória que fez, não só nos Estados Unidos, mas em sua vida.

COLD HOT
AUTOR Sergio Poroger
EDITORA Alfaiatar
QUANTO R$ 110 (120 págs.)
AVALIAÇÃO bom

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