Alexandre Furcolin pulveriza cores de ‘BR Motels’ para mergulhar no elo entre homem e natureza
Quem conheceu Alexandre Furcolin Filho por meio de “BR Motels” ficará confuso. Oito meses após o lançamento do fotolivro de cores berrantes e centrado em objetos e lugares que remetem a sexo, o fotógrafo inaugura nesta quinta (11) uma exposição baseada em sua nova obra, “Carne”, toda em preto e branco e que explora o elo entre homem e natureza de maneira bem subjetiva.
Não se trata, porém, de uma quebra dentro do trabalho do paulista. A mostra na Fauna Galeria é fruto de um processo iniciado há três anos, muito antes da obra produzida junto a Jazzie Moyssiadis durante a residência promovida pela Feira Plana, em 2015. Agora, Furcolin mergulha em fotos de seu arquivo e as confronta com novas imagens, além de objetos e textos, como “O Visível e o Invisível”, de Maurice Merleau-Ponty, que serviu como uma faísca. Na obra, o filósofo francês pergunta: “Onde colocar o limite do corpo e do mundo, já que o mundo é carne?”.
“O ‘BR Motels’ é um livro que flui por meio da cor. Neste, vai pelo sugestivo, pelo mais poético, se é que posso dizer assim”, explica Furcolin, 28. “O ‘Carne’ é um trabalho para criar atmosferas e sensações. Não é uma história, é muito mais um estudo da fotografia como forma, signo e peso.”
Formado em administração pela USP, o artista trabalhou durante anos em bancos com operações financeiras. A maneira de discorrer sobre “Carne”, porém, passa longe da exatidão dos números, e ele diz que há um “lado emocional forte” que não consegue explicar de forma racional.
Imagens pequenas e grandes se alternam no livro dentro de uma espiral que mescla paisagens, corpos e texturas, sempre oscilando entre luzes que ofuscam e caminhos sombrios. Já na mostra, nomeada “Desejo de Queda”, a parede principal exibe constelações de imagens, que ora se reúnem dentro de quadros, ora estão soltas, chamando o olhar do espectador para outra direção até que a conexão entre aquele registro e um outro grupo de fotos seja descoberta. Diferentemente da monocromia do fotolivro, há imagens coloridas na exposição, como também há projeções, pedras, recortes de textos, uma caixa com polaroides e até o pedaço de um tronco de árvore.
Se uma questão levantada por Merleau-Ponty foi o ponto de partida, as páginas de “Carne” carregam o trecho de um texto do russo Andrei Biéli. Os excertos, aliás, funcionam como pistas para entender os agrupamentos de imagens da exposição. “Esse trabalho é muito circular, até o jeito de falar dele é chato”, brinca Furcolin, que vê “Carne” mais próximo da música do que da fotografia. “O livro soa como mantras, remete a nascimento, a algo cosmológico.”
O fotógrafo admite que muitas das ligações entre as imagens serão percebidas apenas por ele mesmo, mas espera que o espectador se aproxime e se afaste da parede da exposição para captar tanto as rimas pensadas em cada núcleo de fotos quanto os vínculos entre todos eles. “‘Carne’ é mais trabalhoso que o ‘BR Motels’, porque é mais incerto. As decisões lá eram muito mais assertivas, existia um certo e errado mais fácil”, lembra ele. “A cada livro você aprende tanto sobre si próprio quanto sobre a lógica de fazer, e isso vai melhorando.”
DESEJO DE QUEDA
ONDE Fauna Galeria, r. Tangará, 132, Vila Mariana, tel. (11) 3668-6572
QUANDO abertura hoje, às 19h; de seg. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 10h às 14h; até 1º/9
QUANTO grátis
CARNE
AUTOR Alexandre Furcolin Filho
EDITORA autopublicado
QUANTO R$ 60
***
Curta o Entretempos no Facebook clicando aqui.
Conheci o trabalho do Alexandre na Fauna ano passado (mesmo material do Carne) e parece ser interessante o livro. Também é interessante como cada trabalho “pede” um tipo de abordagem estética. Mas de fato são bem diferentes os dois livros citados.
Essa questão “o que o trabalho pede” vs “a marca estética do autor” é fascinante.
Abraços,
Obrigado Daigo! Muito precisa a materia!
Caio, exatamente! Cada livro / ideia pede uma linguagem adequada de fundo!