Fotografias da coleção de memórias de Frida Kahlo vêm a São Paulo em exposição partida em dois

DAIGO OLIVA

No Brasil, só há uma personalidade mexicana que gera tanta audiência quanto o Chaves: Frida Kahlo. Embora a artista de sobrancelhas grossas e cicatrizes transformadas em autorretratos seja um símbolo pop no mundo todo, aqui ela encontra alguns dos mais variados ecos de suas obras.

Só nos últimos dois anos, o país viu Frida (1907-54) virar peça de teatro, exposição para crianças, nome de coletivo feminista, inspiração para festa de cumbia e a mostra mais visitada do Instituto Tomie Ohtake, com 600 mil pessoas. Em entrevista à Folha, Hilda Trujillo, diretora do Museu Frida Kahlo, diz ter notado um interesse “particular do público brasileiro”. “O que chama a atenção é que, no país, a procura maior é de mulheres jovens e de meia idade”, diz ela. “Elas se interessam pela totalidade criativa de Frida, sua capacidade de transformar dor em obras de arte, por sua liberdade, pelo rompimento com os cânones sociais e pela superação das adversidades.”

Agora, a artista que fundiu traços autobiográficos ao imaginário do México pós-revolução está de volta. Repete em São Paulo, no MIS e no Espaço Cultural Porto Seguro, uma mostra já montada em Curitiba com fotos de uma coleção de memórias revelada apenas 53 anos depois de sua morte.

Esse baú havia permanecido fechado a pedido de Diego Rivera (1886-1957), marido de Frida, que determinou um prazo de 15 anos depois que morresse para que o arquivo fosse aberto. Dolores Olmedo, mecenas do muralista, resolveu estender o prazo, e o arquivo só foi conhecido em 2007.

No acervo, guardado num banheiro da célebre Casa Azul, onde Frida cresceu e morreu, há documentos, desenhos, cartas, presentes de outros artistas e imagens realizadas pelo pai da pintora, o fotógrafo Guillermo Kahlo. Para Pablo Ortiz Monasterio, curador da exposição, é comum dizer que Rivera foi a grande influência da artista. As memórias apresentadas na mostra, no entanto, revelam que os autorretratos do pai foram grandes referências para a obra da filha.

Durante a infância, a pintora costumava acompanhar o pai durante sessões de retratos de famílias, além de ajudá-lo retocando negativos. “Quando Frida passa um longo período na cama pelo acidente de bonde, Guillermo adapta um escritório para que ela possa pintar”, lembra Monasterio. “E o que Frida pinta? Autorretratos.” Uma das imagens mais emblemáticas da exposição é justamente um registro feito por Nickolas Muray, fotógrafo da “Vanity Fair” que viveu por anos um romance com a artista. Na imagem, Frida está pintando rodeada pelo aparato fabricado pelo pai.

AAAfrida

A família, aliás, é parte central da seleção de 241 fotos da exposição, feita a partir de 6.500 imagens do acervo. A mostra passeia pela infância da artista, com retratos de Frida feitos pelo pai, passagens com amigos e um retrato do casamento de seus pais.

Já o núcleo sobra a paixão por Rivera se confunde com a revolução mexicana, que foi base para as alegorias dos comunistas militantes Frida e Rivera. Imagens relacionadas à revolta estão junto a retratos de líderes socialistas que o muralista colecionava, como Lênin, Stálin e Trotsky.

A mostra, que já passou por Portugal, Polônia, Nova Zelândia e EUA, entre outros, no Brasil será pela primeira vez dividida em duas. No recém-inaugurado Espaço Cultural Porto Seguro serão exibidas imagens de nomes importantes da fotografia, como o americano Edward Weston, o francês Pierre Verger e a italiana Tina Modotti, todas guardadas na coleção de memórias da pintora. Alguns deles mostram suas visões particulares, e por vezes idealizadas, do México, e outras obras são presentes dados a Frida.

Registros feitos pela artista são raros. Segundo Monasterio, só quatro imagens feitas por Frida foram encontradas. “São fotos importantes porque ela usa a fotografia da mesma maneira que pinta”, diz o curador. “Ela faz uma foto de um carrinho [de brinquedo] no momento do acidente, com a menina caída ao lado. É a biografia trágica e bonita de Frida outra vez.”

PARTIDA AO MEIO

Haverá um serviço gratuito de van para transportar o público do MIS (no Jardim Europa) ao Espaço Porto Seguro (Campos Elíseos). As mostras são complementares, e o ingresso, comprado lá ou cá, dá acesso às duas. Questionado se a separação da exposição em dois lugares não atrapalharia o público, o diretor do MIS, André Sturm, afirmou: “Se prejudicasse o público, eu não faria isso”.

FRIDA KAHLO – SUAS FOTOS E OLHARES SOBRE O MÉXICO
QUANDO abertura no dia 3/9, às 10h; de ter. a sáb., das 10h às 19h; dom. e feriados, das 10h às 17h (MIS); até 20/11
ONDE MIS, av. Europa, 158, tel. (11) 2117-4777; Espaço Cultural Porto Seguro, al. Barão de Piracicaba, 610, tel. (11) 3226-7361
QUANTO R$ 6

***

Curta o Entretempos no Facebook clicando aqui.