‘The Americans’, de Robert Frank, será exibido na inauguração do novo Instituto Moreira Salles

DAIGO OLIVA

com Silas Martí

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Um dos fotógrafos mais influentes de todos os tempos, Robert Frank vai mostrar a série clássica “The Americans” numa das mostras inaugurais do novo Instituto Moreira Salles, que abre as portas na avenida Paulista em agosto. Em 1955, o suíço deixou Nova York, onde vivia, e dirigiu um Ford usado pelos Estados Unidos, fotografando os americanos que ele dizia invisíveis –crianças, negros, brancos, políticos, pobres e ricos.

Essas imagens, editadas num livro com prefácio escrito pelo beatnik Jack Kerouac, autor de “Na Estrada”, se transformaram num dos retratos mais contundentes da vida no país, das contradições, desilusões e paradoxos do sonho americano, em especial a violência da segregação racial nos Estados do sul. Publicadas em 1958, as 83 imagens de “The Americans” viraram um marco da fotografia não só por fazer um panorama da nação na época, mas também por introduzir nos fotolivros a lógica sequencial das narrativas literárias.

Não é possível, por isso, entender a obra por meio de imagens isoladas. Com elementos que se repetem por toda a série, Frank traça uma linha que vai costurando o trabalho, uma estratégia usada com frequência em ensaios fotográficos contemporâneos.

“Fotografei pessoas sempre mantidas um passo atrás, que nunca podiam ultrapassar um certo limite”, disse o artista, em entrevista ao jornal “The New York Times”. “Simpatizava com as pessoas que lutavam. Também desconfiava daquelas pessoas que inventavam as regras.”

Nesse sentido, a série desfaz a ideia de uma América heroica, escancarando o lado trágico da bonança econômica. Frank, hoje com 92 anos e recluso num vilarejo do norte do Canadá, negocia com o Instituto Moreira Salles vir ao Brasil para participar da abertura de sua exposição.

Na inauguração do novo prédio do IMS, com projeto arquitetônico da dupla Andrade Morettin, a mostra de Frank vai dividir espaço com o filme “The Clock”, do americano Christian Marclay, e outras exposições coletivas organizadas por Guilherme Wisnik e Thyago Nogueira.

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Comentários

  1. Fatigo, creio que American Photographs, de Walker Evans, publicado em 1938, já trata da questão do livro de fotografia como Robert Frank o fez. A semelhança entre o livro de Frank e o de Evans é gritante, desde o tamanho do livro até a opção por isolar as fotografias, apresentadas todas nas páginas ímpares.
    Abs

    1. Tom, há diferenças bem grandes entre os dois também. Evans é mais um observador neutro, enquanto em “The Americans” é possível perceber a marca do autor que está emitindo uma opinião. Evans é também mais formalista, mais clássico. Frank foi mais radical ao ser mais livre e menos tradicional.

      Abraços

      1. Daigo (o corretor me sacanenou acima…),
        Concordo que Frank traz um olhar menos formalista. Mas discordo que ele seja mais autoral que Evans ou ainda que Evans seja neutro. É aí que Evans se apresenta como um crítico também ácido. Na página de rosto de American Photographs Evans declara que todas as escolhas ali feitas “…couberam ao autor”.
        É essa aparente neutralidade que Evans vai chamar de “documentary style”. Ou seja, parece neutro, mas de fato, não é.

        Bom papo.

        Abs

  2. O novo Instituto Moreira Salles está ligado à antropologia visual? Ou à imagem e marketing? Brasileira no estrangeiro, com falta de retorno ao país e informações atualisadas, pergunta.

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