Contexto de caça às bruxas na arte mantém obra de Philip-Lorca diCorcia atual quase 30 anos depois

DAIGO OLIVA

Hoje mostro um fotolivro tão polêmico quanto cultuado: “Hustlers”, do americano Philip-Lorca DiCorcia, lançado pela Steidl|dangin em 2013.  Trago essa obra agora porque o ensaio foi realizado dentro de um contexto crítico à arte muito parecido ao que estamos vivendo hoje.

Em 1989, o National Endowment for Arts, um fundo federal americano para financiar projetos artísticos, foi atacado por apoiar uma exposição do Robert Mapplethorpe, conhecido por imagens de cunho homoerótico. No mesmo ano, DiCorcia recebeu uma bolsa desse mesmo fundo com uma cláusula que o impedia de produzir obras que “transgredissem valores americanos”.

Em vez de boicotar o NEA, ele decidiu subverter o sistema por dentro. Aceitou a bolsa e fotografou mais de 60 garotos de programa em Santa Monica, na Califórnia. Para documentar esses rapazes, pagou pelo retrato o mesmo que pagaria para fazer sexo com eles. Imaginem só, num paralelo bem grosseiro: o que ocorreria se um artista brasileiro, de alguma maneira, usasse dinheiro de um edital do governo ou de uma Lei Rouanet com prostituição?

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