Pluralidade feminina: o corpo como território político
“Ninguém nasce mulher, torna-se mulher” – a emblemática frase de Simone de Beauvoir.
Faz tempo que quero agrupar aqui imagens de artistas feministas importantes na história da arte, desde que vi duas grandes exposições: em 2018, em São Paulo; e outra em outubro último, em Barcelona, acompanhada de leituras potentes de Louise Bourgeois, Virgia Woolf, Simone de Beauvoir, Hilda Hilst, Lygia Fagundes Telles…
A primeira delas é a exposição Mulheres radicais: arte latino-americana, 1960-1985, organizada pelo Hammer Museum, Los Angeles, como parte da Pacific Standard Time: LA/LA, uma iniciativa da Getty em parceria com outras instituições do Sul da Califórnia, com curadoria de Cecilia Fajardo-Hill e Andrea Giunta, foi recebida pela Pinacoteca de São Paulo com coordenação curatorial de Valéria Piccoli, curadora-chefe do museu.
Na Espanha, no primeiro andar do Centro de Cultura Contemporânea de Barcelona, a coleção austríaca Verbund exibe mais de 200 obras de 73 artistas da Europa, América do Norte e Sul e Ásia nascidas entre 1929 e 1958, em cartaz até 05/01/2020.
Essas artistas trouxeram a representação da mulher com a criação de uma pluralidade de identidades femininas determinadas por elas mesmas, usando a fotografia, o cinema, o vídeo, a performance e os “happenings” para comunicar com o corpo questões políticas, tirando a mulher do papel idealizado para elas de dona de casa, mãe e esposa. Coloca em perspectiva uma produção intensa de artistas que criavam apesar de forte repressão no campo intelectual, político e afetivo, principalmente na América Latina, onde muitos países sofriam governos ditatoriais e regimes extremamente autoritários.
Na maioria das instituições de arte pelo mundo, o número de artistas mulheres em seus acervos é ainda muito pequeno se comparada ao número de artistas homens. Provocar tais reflexões em exposições como essas é fundamental para seguirmos caminhando com a chance da mudança, da voz e da representatividade feminina. O corpo, quando não se tem mais diálogo possível, parece ser o último recurso para acontecer. Ressoemos esses gritos femininos!