Inaudito: O terreiro da performance de Lanny Gordin, no Cinesesc

Inaudito: diz-se do que nunca se ouviu falar, admirável ou estupendo. Aquilo que não está registrado na memória. Aquela coisa bonita, conectada ao ser-estar, ausência e presença e do preencher a alma com palavras, sons, ecos e vibrações.

(Foto: Reprodução do filme “Inaudito”)

Mas é preciso estar atento e aberto. Entrar no cinema para assistir ao filme Inaudito, de Gregorio Gananian e Danielly Omm, não é para todos. É preciso querer sentir, ouvir no silêncio e sentir a ausência.

Com uma esquizofrenia manifestada, Lanny (1951, China), filho de pai chinês de família russa e mãe polonesa, tem a propriedade da palavra, maluca e genial. Ele foi o guitarrista fundamental da tropicália e único em sua trajetória, transitando pela filosofia de forma esplendorosa. Segundo Gil e Caetano, o “Jimi Hendrix brasileiro”. Mistura as palavras e as potencializa de forma ensurdecedora. Vez ruidosa, Vez melodia. São partituras constantes, de sons, de letras, de imagens.

(Foto: Reprodução do filme)

O encontro de Lanny e Gregorio foi telepático. Uma relação de afeto e de cumplicidade. Lanny e sua companheira, Cristina, convidaram o diretor para uma viagem além do além. Depois de um ano de algumas entrevistas informais, jantares de amizade, embarcaram para a China para iniciar parte das filmagens. A relação com ele atravessou a curiosidade, a espiritualidade e deu início a uma longa jornada sensorial.

(Foto: Reprodução do filme)

Os planos passam pelo tempo suspenso, com planos fixos e pequenos movimentos que funcionam como respiros na cena. Com uma fotografia densa e silenciosa, usa as cores primarias – azul e vermelho como pinceladas precisas – que funcionam como linhas e formas no filme. Com a presença de mãos em diferentes planos, o documentário possui rimas internas que nos guiam. Cada plano é extremamente pensado e funciona como um terreiro, pronto para receber uma performance. Um espaço para acontecer e, a partir daí, deixar que o improviso tome seu caminho, como a água na natureza.

(Foto: Reprodução do filme)

Decidir filmar em Xangai foi escolher sair do lugar comum, ir com o Lanny para o outro lado do mundo – que nunca mais tinha voltado ao país – e buscar um caos germinal.  Gregorio dirige o caos e o improviso como quem rege uma orquestra harmoniosa. “Era muito forte a ideia de um outro pensamento, da própria linguagem, do funcionamento paratático da imagem, recebendo o Lanny”, comenta o diretor.

(Foto: Reprodução do filme)

O trabalho de pesquisa de locações de Xangai de Danielly Omm, corroterista e diretora de arte do longa, via google, foi fundamental para o projeto. E um jogo de imaginação para tatear, ainda o não tocável, de Gananian.

O amplificador de Lanny é tão personagem quanto ele. Eles acontecem juntos e transmutam um ambiente. Em cenas no meio do caos chinês, funcionam como uma presença latente. Imagem e banda sonora seguem um roteiro de emoções e sensações, com o mesmo peso.

(Foto: Reprodução do filme)

“A fronteira ética, no sentido da beleza, foi a linha condutora do filme. Para não ultrapassar os limites da cabeça de Lanny. Isso a gente nunca vai entender de verdade.”, pontua Gananian.

Abra o corpo e mergulhe nas ondas sonoras de Inaudito. Se permita ir além do além, como o próprio Lanny sugere, rodeado pelo ritmo do mar, do acaso, do pertencer e do ser.

(Foto: Reprodução do filme)

Inaudito

De Gregorio Gananian e Danielly Omm

Em cartaz, no Cinesesc até 19/02 – 15h e 19h