O eterno flerte das artes plásticas com a moda
Há muitos anos e coleções, arte e moda andam juntas. Estilistas e artistas plásticos ocupam a mesma passarela, contemplando a beleza e o vestir do corpo humano. Um relacionamento rico, vezes ousado, vezes discreto, mas sempre indo além dos limites geográficos para trazer influências globais para nossos guarda-roupas. Na sua forma mais óbvia, esse relacionamento pode resultar em traduções literais da obra de uma pessoa: o famoso vestido de Yves St Laurent, de 1965, reproduzindo a famosa gravura em bloco de cor primária de Piet Mondrian.; a extravagante Elsa Schiaparelli, numa sinergia estética com o surrealista Dali, criando seu renomado vestido de lagosta, chapéu de sapato e vestido de lágrimas de 1937.
Um designer pode ter toda sua coleção baseada em uma pintura ou exposição de algum artista e pode ter influências mais sutis de um movimento artístico, período ou paleta de cores. Ainda, uma marca pode dar a um artista carta branca para criar uma gama de cápsulas: a Louis Vuitton é veterana no negócio de parcerias artísticas colaborativas, fazendo parceria com o artista pop de Tóquio Takashi Murakami em 2007; o americano Richard Prince em 2008; a japonesa Yayoi Kusama em 2012 e; em seu mais recente projeto, com Jeff Koons. Há ainda o caso de Alexander Mcqueen com estampas criadas por Damien Hisrt, Paul Smith e o pintor John Tierney, as edições limitadíssimas da Hermès com H.Sugimoto, a fast fashion H&M e o pintor Alex Katz, Raf Simons e o fotógrafo Robert Mapplethorpe.
Fernanda Yamamoto e Nino Cais se frequentam faz algum tempo, na admiração mútua dos trabalhos e na vontade de criarem algo juntos. No último desfile da estilista paulistana, em outubro passado, para comemorar os 10 anos de marca, ela fez um trabalho de upcycling, criando novos looks revisitando peças antigas, usando as vezes 20 peças em uma só. Fernanda traz, no DNA de sua marca, uma mistura de referências japonesas (de onde vieram seus avós), materiais nobres e muito trabalho artesanal, respeitando o tempo de cada processo, sem pressa.
Para esse desfile, criado como um baile de gala por conta da efeméride da marca, convidou cinco parceiros para criar um look sem preocupação comercial. Nino foi um deles. O também paulistano artista plástico desenvolveu um look pautado em toda sua obra, que se fundamenta na ressignificação de imagens. O cenário do desfile com tecidos brancos e vidros foi desenvolvido numa evolução criativa no moleskine do artista.
Cais trabalha com fotografias, desenhos, colagens, vídeos ou objetos tridimensionais, fazendo uso de uma série de elementos comuns, colhidos em recortes de páginas de revistas, livros de arte, de história ou desenhados sobre papel e objetos de uso cotidiano de uma casa. Assim, ela cria suas obras extremamente delicadas contando estórias com a sobreposição constante de imagens. Ele fabrica um mundo próprio, que nos leva a um tempo diferente, etéreo. Suas obras nos provocam reflexões únicas, acessando nossas memórias mais íntimas e repletas de devaneios.
Esse ponto de intersecção entre os dois olhares está presente em um macacão branco com diferentes rendas e texturas, surgido nas passarelas do SPFW. Com a potência dessa parceria, a nova coleção da estilista será lançada nesta quinta-feira, 5 de março, inspirada por esse desfile e esse cenário. Os dois tiveram a ideia de ocupar a vitrine da loja juntos e criar um look real e comercial partindo das referências de ambos. O resultado? Esse macacão lindo, disponível em diferentes cores.
O “Projeto ocupação,” com a curadoria de Nino até o fim de 2020, pretende trazer as artistas Lia Chaia e Carla Chaim para a marca Fernanda Yamamoto. Esperemos os próximos felizes encontros entre moda e arte.
O coquetel de lançamento acontecerá nessa quinta feira, 5 de março, das 17hs às 20hs
R. Aspicuelta, 441, Vila Madalena