Para essa edição do ensaio palavra-imagem, convidei a querida Roberta Martinelli, dona da voz da música brasileira, apresentadora do “Som a Pino” na Rádio Eldorado e do “Cultura Livre” na TV Cultura, para se inspirar com as imagens etéreas de um espaço suspenso, da fotógrafa norueguesa Marianne Bjørnmyr. O resultado?! Um ecoar das entranhas deste planeta que chamamos de Terra.
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“Amanhã será um lindo dia, da mais louca alegria que se possa imaginar.”
Guilherme Arantes lançou essa música em 1977. O contexto era outro. Era outro? O mundo era diferente. Era? E, hoje, passados quarenta e três anos desse lançamento essa é a música que toca na minha cabeça quando conto mais um dia de isolamento.
A gente passa, mas a música fica.
No mesmo ano, 1977, duas naves da missão Voyager foram lançadas ao espaço para uma viagem eterna ou até serem interceptadas por outro planeta ou por pessoas de outro tempo e por isso o astrônomo Carl Sagan e sua equipe colocaram nela o Golden Record, um disco gravado com sons da Terra, vozes, saudações e músicas. O som desse disco viaja bilhões de quilômetros até que um dia…
Até que um dia…
…enfim, não saberemos.
Já que 77 se repetiu aleatoriamente, de lá buscarei canções que viajam no tempo sem escala.
Em 1977, Caetano Veloso lançou o disco Bicho e nesse álbum a música que ele não sabia que cantaria para o resto da vida: O Leãozinho.
No mesmo ano, um disco infantil foi lançado e esteve presente na minha infância em 1983 e está agora tocando na minha vitrola na infância da minha filha, em 2020: Os Saltimbancos
Foi nesse ano também que Moraes Moreira lançou o disco Cara e Coração e a música Pombo Correio, parceria dele com Dodô e Osmar, que embalaria tantos bailes de tantas vidas. Anos depois, num triste 2020 ele nos deixa, vai embora dormindo.
Bowie lançou Heroes, Gilberto Gil lançou Refavela, João Gilberto lançou Amoroso.
Canções que estão aqui tocando.
O que deixaremos no nosso disco?
“Amanhã redobrada a força”.