O silêncio das árvores – Thais Gouveia e Antti Laitinen no Ensaio Palavra-Imagem
Para essa edição do Ensaio Palavra-Imagem convidei a comunicadora e escritora Thais Gouveia que me propôs as imagens do finlandês Antti Laitinen. Thais escreve sobre arte, tendo publicado mais de 50 artigos e ensaios em veículos nacionais e internacionais e trabalhou na comunicação de galerias de arte e instituições, incluindo a Pinacoteca de São Paulo. Laitinen tem realizado exposições individuais em importantes museus na Europa e EUA, incluindo a representação de seu país na Bienal de Veneza, em 2013. A concepção de suas obras o empurra à situações extremas e aos limites de sua própria força física e mental.
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O que faz uma árvore em confinamento? Me pergunto se seus galhos, tal como neurônios, seguem fiando suas sinapses rizomáticas após dias entediados num repetitivo tatear do espaço.
Ao se dar conta de que não é possível atravessar os limites, será que a árvore acaba se entristecendo ao não se ver floresta? Uma vez que ela é apartada do fundo, pode ela continuar a ser o que é sem a presença dos insetos, dos macacos, do vento?
Ela então se vê confrontada por linhas. Duras e cartesianas que, em seu despotismo, dia após dia, vão perfurando a ancestralidade daquilo que a nomeava: árvore. Cada toque da linha em um de seus galhos deforma-a um pouco mais.
Mas essas linhas, que desconheciam outro modo de ser, não se conformavam em tentar redesenhar as formas da árvore. Então elas se adensaram até se transmutarem em chumbo para que pudessem perfurar e fraturar o seu interior.
Em seu profundo silêncio a árvore então acolhe as linhas. E, com resiliência, vai apanhando uma a uma e passa a tecê-las. Até que o tecido vira um pássaro. E logo depois um frondoso bosque. Que escorre e flui como rio. Para correr em direção ao abraço do magma. Despedindo-se como feixe de luz.