Inquietações sobre corpos pretos masculinos – Ensaio Palavra-Imagem
Cassiana Der Haroutiounian
Para esta edição do Ensaio Palavra-Imagem convidei a paulistana Midria, Poeta, estudante de Ciências Sociais na Universidade de São Paulo, educadora, slammaster do Slam USPerifa e membra do Coletivo Sarau do Vale para escrever pautada pelas imagens extremamente potentes da fotógrafa caribenha Denisse Ariana Pérez. Midria atua na cena de slams desde 2018, ano que participou do programa Manos e Minas da TV Cultura e viralizou com sua poesia “A menina que nasceu sem cor” atingindo mais de 7 milhões de pessoas entre vídeos compartilhados nas redes sociais. Pérez, por sua vez, tem como base Copenhaguen e usa fotografia para contar histórias que subvertem representações e atitudes em relação aos homens negros que estão enraizadas no pensamento colonial, redefinindo essa masculinidade. A combinação das duas? Algo que água os olhos e me tira as palavras.
inquietações sobre corpos pretos masculinos
eu não sou um homem negro
o que eu poderia dizer sobre corpos pretos masculinos?
quais são as representações de corpos pretos masculinos que moram na mente alheia?
qual o corpo preto masculino mais perto de você? como esse corpo te afeta?
eu não sou um homem negro
mas meu pai negro foi desde quase sempre significado de ausência
e encontrar homens pretos na vida me atravessa, me versa, me vem
a imagem de homens pretos
quero vê-los em representação mais feliz
destruição total dos registros mórbidos desses homens interrompidos
eu não quero que outro vídeo de um policial sobre o pescoço de um homem negro rode o mundo
antes de haver uma revolução que apague todo rastro de dor desses corpos
eu não quero que mais nenhum menino preto morra antes de sequer ter a chance de se tornar um desses homens pretos
sem antes descobrir que pode ser ancestral e imenso, potente, preto potente como o céu projetado em sua pele
eu não sou um homem negro
mas do meu lugar negro feminino sinto as dores que partilha esse corpo preto
sinto as dores e todos os sonhos que nos povoam mutuamente
eu não sou um homem negro
mas quero muito, ver mais homens pretos em um domingo no parque com seus filhos
mas quero muito, ver mais homens pretos que chorem, meditem, dancem
e se abracem, e se permitam serem vistos, e se encontrem no afago
sem culpa de serem homens pretos
eu não sou um homem negro
mas
um sorriso
um abraço de um homem preto
também é minha felicidade