Provoke! A estética e a política da fotografia japonesa

Shomei Tomatsu
Cassiana Der Haroutiounian

Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, com os bombardeios de Hiroshima e Nagasaki e a ocupação dos Estados Unidos, o Japão tem dado contribuições significativas para a fotografia mundial, com uma estética sólida e radical para através dos tempos. O grupo de vanguarda que se consolidou entre os anos 1950-1970 rompeu com todas as tradições jornalísticas já existentes, criando imagens cruas e subjetivas em preto e branco do mundo. Composto por figuras importantíssimas como Takuma Nakahira, Koji Taki, Shomei Tomatsu, Daido Moriyamao o grupo investigou a americanização e o crescimento industrial do país, abordando a cultura atual, abrindo o caminho para grandes nomes da fotografia japonesa contemporânea.

Shomei Tomatsu

A estética “provoke” é marcada por fotos extremamente granuladas e desfocadas, com pretos fechados e estouros de brancos que remetem às bombas. Mesmo que cada fotógrafo carregue sua própria estética, uma característica presente em todos é uma abertura ao acaso, à experimentação, à fotografia com diferentes características, potencialidades e possibilidades para além do uso descritivo da imagem fotográfica, sendo também um filtro de vivência entre o mundo e a câmera. Não se tratava apenas de registrar o entorno, mas de capturar a experiência do viver pós-guerra e dar uma nova perspectiva desde quem faz a imagem.

Daido Moriyama

Os fotógrafos, preocupados em romper os limites da reportagem tradicional, faziam um registro da relação entre eles e a vida, abrindo espaço para que o espectador aconteça numa relação lírica na fotografia que flerta com o onírico. Não pensavam em cada imagem isolada, mas na potência delas em conjunto, numa conexão como séries e livros editorialmente muito bem resolvidos, com uma noção profunda, ampla e complexa da fotografia japonesa.

Takuma Nakahira

“Como preencher a lacuna entre política e arte?” Essa foi uma das perguntas que fomentou a criação da revista “Provoke”, surgida da raiva e do descontentamento em relação à americanização do arquipélago. Com apenas três números (entre 1968 e 1969), a revista examinou a situação sócio-política do Japão com um estilo radicalmente inventivo, tendo um impacto profundo e revolucionando a fotografia dentro e fora do Japão.

Provoke

 Além da fotografia, a revista também tinha foco na escrita. Imprimiu poesia experimental, bem como ensaios filosóficos, políticos e críticos. “Nós, fotógrafos, devemos continuar agarrando com nossos próprios olhos aqueles fragmentos da realidade que não podem ser capturados com a linguagem existente, ativamente apresentando materiais contra a linguagem e contra o pensamento”, definia o manifesto coletivo da Provoke.

Provoke

Nem todos os fotógrafos ligados a Provoke eram conectados profundamente a política, mas estavam antenados  às questões sociais e urgentes que transformavam o Japão e o mundo naqueles anos turbulentos para a política:  as revoluções estudantis, maio de 1968 em Paris; o assassinato de Martin Luther King Jr, a Primavera de Praga e os protestos contra a Guerra do Vietnã. Tudo isso, mesmo com toda a distâncias, acarretou uma parceria de fotógrafos e outros artistas ao redor do globo, questionando o significado do poder americano, numa troca importante para o senso político.

Provoke

Todos esses nomes japoneses foram se aproximando do Ocidente assim que o MoMA em 1974 realizou a exposição “New Japanese Photograph”, despertando o interesse de colecionadores do mundo da arte e de instituições ao redor do mundo com mostras dedicadas à fotografia japonesa até os dias de hoje.

Daido Moriyama

Se você quiser saber mais sobre a fotografia japonesa do pós guerra, dentre outros temas ligados ao Japão, acesse a plataforma de cursos Momonoki do blog Peach no Japão.

*o curso é dado pelo professor Daniel Salum, que estuda o tema há 8 anos.