‘Está escuro, claro’- Ensaio Palavra-Imagem com Igiaba Scego e Adrian Piper
Nesta edição do Ensaio Palavra-Imagem, convidei a italiana Igiaba Scego, filha de imigrantes somalianos, para escrever baseada nas imagens da norte-americana Adrian Piper. Scego e seu livro “Minha Casa é onde estou” me atravessaram desde o início da leitura e decidi agregar um trecho junto a seu texto novo para o entretempos. Piper é escritora e filósofa, autora de obras conceituais que já fizeram parte da 56ª Bienal de Veneza, levando o prêmio “Leão de Ouro” pelo Júri.
“Um sentimento difícil de explicar ocupou nossas almas. Não era melancolia, não era tristeza, não era choro, não era alegria. Era algo na fronteira de todos esses impulsos. Chico Buarque, o poeta e cantor brasileiro, teria certamente definido o sentimento como saudade. Que linda palavra! Uma palavra intraduzível noutras línguas, mas tão clara, como somente o nosso nome numa noite de lua cheia consegue ser. Um tipo de melancolia que se sente quando se está ou se foi muito feliz, mas na alegria se insinua um leve sabor amargo. E é nessa saudade de exilados da nossa própria terra-mãe que acontece um dos começos dessa história. Digo um dos começos, pois ela não se inicia nunca uma só vez na vida. Nunca num só lugar.”
O vazio de nossas vidas pode ser preenchido com palavras, livros, arte, imagens. As imagens falam de desolação, como na canção “Eleonor Rigby” dos Beatles, mas nesse vazio dá para ver o alfabeto. Mesmo que tudo pareça perdido, existe uma luz que nos ilumina. Está escuro, claro. Mas cabe a nós torná-lo nosso sol que brilha para sempre.
Texto original em italiano: Il vuoto delle nostre esistenze possono essere riempite da parole, libri, arte, immagini. Le immagini parlano di desolazione, come nella canzone Eleonor Rigby dei Beatles, ma poi in quel vuoto si intravede l’alfabeto. E anche se tutto sembra perduto, c’è una luce che ci illumina. È fioca, certo. Ma sta a noi renderla il nostro sole che splende in eterno.