Também guardamos pedras aqui – Ensaio Palavra-Imagem com Luiza Romão
Para esta edição do Ensaio Palavra-Imagem, convidei a poeta e atriz Luiza Romão para interagir com imagens que fiz na Armênia nos últimos 15 dias. A ideia de convidá-la surgiu quando vi o título de seu novo livro: “Também guardamos pedras aqui” (Editora Nós). Conversamos um pouco sobre pedras, ruínas e decidimos que as suas palavras com as minhas imagens recentes fariam sentido juntas. Ela também é autora de “Coquetel Motolove” e “Sangria” (ambas pelo selo Doburro) e investiga as fronteiras entre poesia, performance e cinema. Além disso, participou de antologias como “Querem nos calar: poemas para serem lidos em voz alta” (Editora Planeta); “Antifa: Coleção Slam” (Autonomia Literária) e “29 poetas hoje” (Cia das Letras). Atualmente, Romão desenvolve mestrado em Teoria Literária e Literatura Comparada (FFLCH/USP) estudando voz, poesia e slam. Quanto a mim, tenho uma pesquisa de anos sobre o território-Armênia e seus desdobramentos em cicatrizes, fronteiras, montanhas e ancestralidade. A união dos nossos trabalhos promove uma combinação de existências, de lugares, do Cáucaso ao Brasil, das pedras que guardamos aqui, com as pedras que nos guardam por lá.
epílogo
ditas as palavras todas ou alguma
sopro agarrado à glote com desejo
de voz suspensas as refregas borra
aparente no átimo da página virada
a cabeça pendida diminuta quimera
só elas restam elas rubras colossais
herói algum lhe tocaria os cabelos
herói algum lhe encurralaria a noite
herói algum até que
medusa-górgone-mulher-animal-celenterado
sussurro através das lascas
ler na poeira os arquivos
do ontem aprender a quebrar
pedra com os olhos