World Press Photo premia foto sobre drama dos refugiados e recua de tendência comportamental

DAIGO OLIVA

Em preto e branco, um homem passa um bebê por baixo de uma cerca de arame farpado em Röszke, na fronteira entre Hungria e Sérvia. A imagem, realizada pelo fotógrafo Warren Richardson em agosto do ano passado, venceu o principal prêmio da edição 2016 do World Press Photo, que anunciou sua lista de ganhadores na manhã desta quinta (18). O tema dos refugiados quebra a tendência, nos últimos dois anos, de celebrar temas comportamentais como “a” foto.

Em 2014, a imagem do americano John Stanmeyer sobre um grupo de imigrantes somalis em busca de sinal de celular na costa de Djibuti, no leste da África, foi a vencedora da maior honraria do fotojornalismo no mundo. Embora tratasse de imigração, o elemento que mais chamava a atenção era o tema da disseminação da tecnologia. No ano seguinte, o registro de um casal gay durante um momento íntimo, tomada pelo dinamarquês Mads Nissen em São Petersburgo, na Rússia, foi a vencedora. Ambas as fotos também levaram a categoria de temas contemporâneos.

O australiano Richardson e o júri desta 59ª edição colocam a política de volta ao topo do World Press Photo. Na categoria de notícias gerais, segundo texto publicado pelo prêmio, a crise dos refugiados foi o tema dominante entre os registros enviados pelos concorrentes. “A guerra na Síria, os ataques em Paris em janeiro e novembro, o devastador terremoto no Nepal e os confrontos nos Estados Unidos desencadeados pela polícia também estiveram muito presentes.”

O maior vencedor desta edição do World Press Photo, aliás, parece ser um sinal de volta às origens do prêmio da maneira menos complicada possível: uma imagem clássica, em preto e branco, sem o tratamento que faz as fotos parecerem telas de videogame –e que gerou mudanças para evitar suspeitas de manipulação– e de um assunto que esteve no noticiário à exaustão.

Para Francis Kohn, chefe do júri e diretor de fotografia da agência de notícias France Presse, “a foto de Richardson tem potência por sua simplicidade, especialmente pelo simbolismo da cerca de arame farpado”. “Achamos que tinha quase todos os elementos para dar uma imagem forte do que está ocorrendo com os refugiados. É uma foto muito clássica e ao mesmo tempo atemporal.”

Combatente do Estado Islâmico é atendido em hospital no Curdistão, foto de Mauricio Lima
Foto de Mauricio Lima registra índios Munduruku brincando no rio Tapajós

Também em preto e branco, Francesco Zizola, experiente fotógrafo italiano da agência Noor, ficou em segundo lugar na categoria de histórias contemporâneas com o ensaio sobre um navio de pesca que saiu da Líbia em direção à Itália com 500 imigrantes. Ele ficou atrás do português Mário Cruz, que registrou a vida de talibes, garotos que vivem em uma rotina de abusos e miséria em escolas islâmicas no Senegal. Eles são forçados a pedir dinheiro nas ruas, enquanto seus responsáveis religiosos tomam o que eles arrecadam. O ensaio também foi feito em… preto e branco.

Destoa nesta categoria o trabalho da terceira colocada, Sara Lewkowicz, que já havia sido premiada pelo World Press Photo em 2014, com um polêmico ensaio sobre violência doméstica. Desta vez, ela retrata o cotidiano de duas mulheres, Emily e Kate, que ficaram grávidas por meio de inseminação artificial e fertilização in vitro. As crianças nasceram com quatro dias de diferença, e elas decidiram criá-los juntos. Este parece ser o assunto que mais se aproxima da tendência comportamental e contemporânea que dominava a premiação nos últimos dois anos.

Já o fotógrafo brasileiro Mauricio Lima foi lembrado duas vezes. Venceu o prêmio de notícias gerais com uma forte imagem de um combatente de 16 anos do Estado Islâmico sendo atendido em um hospital na Síria. O garoto foi fotografado em frente a um pôster de Abdullah Ocalan, líder do partido dos trabalhadores do Curdistão e que está preso. Na categoria de vida diária, Lima ficou em segundo lugar ao registrar índios Munduruku brincando no rio Tapajós, no Brasil. O sueco Paul Hansen, vencedor da foto do ano em 2013 que provocou uma avalanche de críticas e mudanças nas regras do prêmio devido às questionáveis pós-produções aplicadas à imagem, ficou em segundo lugar na categoria em que Lima foi o vencedor. O assunto desta vez? De novo, refugiados.

Em Lesbos, na Grécia, imigrantes viajam na escuridão para não serem descobertos pela polícia. Nada poderia ser mais distante do colorido artificial que deu a ele o prêmio em 2013. A 59ª ediçnao do World Press Photo reuniu 5775 fotógrafos de 128 países, totalizando 82951 imagens.

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