De Dentro #10
O De Dentro dessa semana é da galerista Juliana Freire.
Esta fotografia é da minha tataravó Sofia Alves, que nasceu no final do século XIX e foi uma mulher fora do seu tempo. Comerciante de muito sucesso, atuava em todas as áreas do comércio do pacato vilarejo de Dôres da Boa Esperança, no sul de Minas Gerais.
As histórias são maravilhosas, como a que ela viajava na primeira década do século XX para o Rio de Janeiro levando na mala alguns tijolos para despistar a ausência de peso, a fim de voltar com mercadorias finas, vestidos de noiva, artefatos e novidades para a cidade.
Quebrou após a grande recessão nos anos 30, a partir do impacto da crise em um banco de Alfenas. Sempre achei estranho que uma cidade tão pequena e tão longe do “progresso” como Boa Esperança pudesse germinar: o pianista Nelson Freire, o escritor Rubem Alves, o chef Renato Freire; os falecidos Newton Freire Maia, cientista, e Geraldo Freire da Silva, político; além de uma das mais belas canções dos anos 40, de Lamartine Babo.
Sempre choro nas primeiras notas. Olhando esta foto, pensava que existia ali naquela terra, algo profundo e desconhecido, uma vocação estranha que atraía músicos (como o Festival da Canção) e exportava caipiras determinados.
Este mistério me persegue assim como a força deste retrato, que ecoa a mensagem: por que seguir regras se podemos ir além, correndo todos os riscos de tentar? (coitados dos meus pais…) O fato é que ninguém se lembra como Sofia morreu, mas todos lembram como viveu após mais de um século.
Uma das teorias que mais gosto sobre esta região próspera em belas e brandas memórias foi de uma sensitiva (lá existem muitas): abaixo de todas as camadas de terra que nossos equipamentos podem alcançar, há uma quantidade de ouro inimaginável!
A maioria dele submerso como várias cidades pela represa de Furnas na década de 50, e a energia deste metal auxilia os habitantes a manter um equilíbrio entre a nobreza e a pureza. Agora a represa está baixa como nunca e todas as cidades e pontes estão submergindo. Espero que o “ouro”
de lá, se existir, seja descoberto apenas através destes bons exemplos.
Juliana Freire é sócia da galeria Emma-Thomas. Inaugurada em 2006, ao lado de Flaviana Bernardo, a galeria acaba de se mudar para um novo espaço, nos Jardins, e abriga artistas como Arnaldo Baptista, Erica Ferrari e Lucas Simões.
Toda segunda, o Entretempos publica a seção De Dentro –uma pessoa elege uma imagem importante em sua vida (uma fotografia, um quadro, uma capa de disco, um postal, o que vier a cabeça) para relembrar memórias e sensações ou relatar o porquê daquela figura ser tão fundamental.
Gostou? Confira os outros De Dentro: Daigo Oliva, Lulina, Daniel Klajmic, Mônica Maia, Nazareno Rodrigues, Beto Brant, Manuel da Costa Pinto, Marcos Augusto Gonçalves e Cassiano Elek Machado.
A saga da “Vó Sofia” até hoje causa-nos impacto,tenho uma irmã e uma filha com o nome de Sofia,além do orgulho de ser parente,o nome é lindo!
O q seria de nós hj se ela não tivesse quebrado hei. Com certeza ela teria triplicado a sua fortuna, devido a sua inteligência, dinamismo e tb derrubado preconceitos contra as mulheres. Me orgulho de ser bisneta de u/a mulher de tanta grandeza e valores.