De Dentro #16
O De Dentro dessa semana é da jornalista Isabelle Moreira Lima.
Uma mulher é uma mulher
No fundo, no fundo, eu sempre quis ser uma mulher da nouvelle vague. E é claro que, nascida no Ceará, no último suspiro da década de 1970, tive que lidar com certas limitações históricas, geográficas e visuais.
A meu favor, um nome ligeiramente afetado (Isabelle com dois ls e é no final, por favor) e um senso estético que sempre apontou para o vestido e o delineador certo. E assim, por anos, fingi ser — ainda que só na minha cabeça — um pouco Karina, um pouco Moreau.
Mas aí eu fiz 30. E, pior, 31. E foi neste momento que assisti ao filme mais legal, presente de uma amiga que sem eu falar nada entendeu tudo.
“Uma Mulher é uma Mulher” com Ana Karina aos 21. O filme, lindo, mostra cenas de casal que eu me acostumava a viver: desde o “o que você quer jantar hoje?” até o momento de limpar o pé ao subir à cama.
Me identifiquei, claro, mas o que pegou foi outra coisa. O que ele mostrou só pra mim e o que grudou na minha cabeça foi o óbvio: não apenas eu não era Ana Karina como era mais velha.
O tempo estava passando. Eu deixava de ser uma jovem adulta. Eu já era uma adulta, uma mulher. Uma mulher é uma mulher. E mais: dali, a cada semana, a cada dia, eu ficaria mais longe de Ana Karina. (Ou pelo menos daquela Ana Karina, que não sabe se é melhor camisola ou pijama.)
Foi um pouco ridículo, mas ela me fez chorar.
Isabelle Moreira Lima é jornalista, vive em Chicago e já escreveu para publicações como Folha, “Status”, “G1”, “Terra” e “Poder”.
Toda segunda, o Entretempos apresenta a seção De Dentro –uma pessoa elege uma imagem importante em sua vida (uma fotografia, um quadro, uma capa de disco, um postal, o que vier a cabeça) para assim, relembrar memórias e sensações ou relatar o porquê daquela figura ser tão fundamental.
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