De Dentro #21
O De Dentro dessa semana é da jornalista Vivian Whiteman.
É assim que me lembro dela: branca, a foto no meio, começando assim na altura do peito, com moldura cor-de-rosa estampada de onça. E umas bordas pinceladas amarelas. Foi minha primeira camiseta “de banda”, minha primeira camiseta da Madonna.
Ganhei da minha tia, acho que vinda das hoje desaparecidas lojas Mesbla. Eu tinha uns sete anos. A foto estampada, fui saber décadas depois, foi feita por um cara chamado Gary Heery. Substituiu uma outra opção bem sem charme, meio cafona no mau sentido, que jamais poderia ter sido capa do primeiro disco da grande diva da minha vida.
O disco que tem “Lucky Star”, um sinal de que a rainha do pop estava na área, meu bem. Eu pirava nas pilhas de pulseiras, na corrente no pescoço. Amava usar a “camiseta da Madonna”, minha mãe tinha dificuldade de me empurrar outras opções.
Usei até a foto sumir. Não me lembro exatamente da primeira vez que ouvi uma música ou vi um clipe dela. Provavelmente, no “Fantástico”, porque o evento MTV só rolou nos 90, quando eu já era adolescente.
E ainda não existia o Clip Trip, na Gazeta, responsável pela alegria dos pré-teens que gostavam de música. Foi lá que vi “Like a Prayer”, um momento decisivo na minha formação enquanto mina, mas isso é outra história. A sessão de Heery com Madonna mostra que, já naquele começo, ele tinha entendido como ela queria ser, que tipo de artista estava surgindo. É um grande mérito pra um fotógrafo.
A cara de gato bravo, as sobrancelhas uau, o olhar de quem vai estourar as correntes. Estourou várias e, quando não arrebentou, esticou até o limite. Mesmo tiazona, ainda passa muita rasteira nas novinhas. É difícil dizer o que me atraía tanto naquela foto aos 7 anos. Talvez uma imagem do que eu gostaria de parecer, uma espécie de modelo visual.
Sempre curti as bafônicas: amava, por exemplo, as modelos e atrizes das capas de Nova, espalhadas pela casa da mesma tia que me deu a camiseta. Mas de uma coisa eu me lembro. De me sentir muito bem, muito legal, usando a camiseta com a cara da Madge.
E como a memória se constrói ao contrário, do presente para o passado, hoje posso dizer: foi minha primeira experiência de power dressing (não no sentido de roupa de executiva dos anos 80, mas na ideia de um pedaço de pano que tem e dá poderes quase ‘mágicos’). Tombou geral, Gary Heery; brigada, tia Lena, arrasou. Madonna, apenas <3.
Vivian Whiteman é jornalista cultural há 13 anos e escreve sobre moda e cultura na “Ilustrada” e na revista “Serafina”, da Folha.
Toda segunda, o Entretempos apresenta a seção De Dentro –uma pessoa elege uma imagem importante em sua vida (uma fotografia, um quadro, uma capa de disco, um postal, o que vier a cabeça) para relembrar memórias e sensações ou relatar o porquê daquela figura ser tão fundamental.
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